O valor da colaboração: capacitação para uma transição digital equitativa

EUI
European Urban Initiative
02/06/2025
EUI Capacitação

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O valor da colaboração entre cidades

A colaboração entre cidades no âmbito da transição digital pode ser vista como uma forma de facilitar a inovação, partilhar recursos de forma eficiente e assegurar um desenvolvimento tecnológico equitativo, evitando uma lógica de competição de soma nula por investimento, talento ou reconhecimento. As cidades europeias, ao envolverem-se na colaboração mútua, dispõem de várias formas de abordar a tecnologia em conjunto.

Por exemplo, em vez de cada cidade desenvolver as suas próprias plataformas digitais de raiz, podem co-desenvolver e partilhar infraestruturas como serviços em nuvem, aplicações de inteligência artificial e portais de dados abertos. Podem utilizar soluções open source (por exemplo, plataformas de dados urbanos abertos) que permitam aprender umas com as outras, evitar redundâncias e melhorar os serviços de forma conjunta. Em vez de reterem dados, podem criar commons de dados onde informação anonimizada é partilhada para melhorar o planeamento urbano, a mobilidade ou a resposta a emergências.

Cidades e vilas à escala metropolitana podem negociar coletivamente com fornecedores de tecnologia para obter melhores preços e garantir a interoperabilidade de soluções smart, assegurando que os sistemas digitais funcionam de forma integrada em áreas urbanas. Ao definirem normas comuns para a partilha de dados e para a cibersegurança, podem reforçar a compatibilidade e facilitar a colaboração intermunicipal.

As cidades podem também criar laboratórios de inovação urbana conjuntos, onde start-ups, investigadores e decisores políticos de diferentes localidades cocriam soluções digitais, bem como empreendimentos partilhados que atraiam maior investimento e reduzam riscos financeiros.

Mas, sobretudo, podem estabelecer redes de aprendizagem entre pares, onde equipas técnicas e responsáveis municipais trocam conhecimentos e desenvolvem estratégias conjuntas. Cidades com desafios semelhantes (por exemplo, congestionamento, adaptação às alterações climáticas, inclusão digital) podem partilhar boas práticas e testar soluções de forma colaborativa.

Capacitação para uma transição digital equitativa

É neste contexto que a Iniciativa Urbana Europeia (European Urban Initiative, EUI) e as suas oportunidades de capacitação desempenham um papel fundamental. A EUI aborda os desafios da transição digital através das atividades de Intercâmbio entre Cidades (City-to-City Exchange) e Revisão por Pares (Peer Review), promovendo a capacitação e a aprendizagem colaborativa entre autoridades urbanas. Estes programas permitem às cidades trocar boas práticas, explorar soluções inovadoras e enfrentar coletivamente as complexidades associadas à transformação digital.

Experiências de aprendizagem adaptadas para uma economia digital bem-sucedida

O programa de Intercâmbio entre Cidades (City-to-City Exchange) promove a colaboração direta entre autoridades urbanas, com enfoque em desafios específicos relacionados com o desenho e implementação de estratégias integradas, baseadas no território, no quadro da Política de Coesão. Este programa valoriza experiências de aprendizagem personalizadas, permitindo às cidades definir o conteúdo, calendário e formato dos intercâmbios de acordo com as suas necessidades específicas.

Embora os Intercâmbios entre Cidades abranjam uma grande diversidade de temas, vários se centraram, no último ano, em diferentes dimensões da transição digital. Em abril de 2024, representantes de Brno (República Checa) realizaram um intercâmbio com Tallinn (Estónia), com o objetivo de explorar os fundamentos de uma economia digital bem-sucedida e recolher ensinamentos para fortalecer o ecossistema de inovação e empreendedorismo de Brno. A delegação, composta por responsáveis municipais e membros do Parque Tecnológico, procurou compreender as estratégias que posicionaram Tallinn como referência em digitalização e governança eletrónica (e-governance).

Brno, com cerca de 380 mil habitantes, é muitas vezes designada como o 'Silicon Valley da Morávia', acolhendo um elevado número de empresas internacionais e checas, start-ups, centros de investigação e universidades. A cidade atrai também uma população jovem, com cerca de 80 mil estudantes. O intercâmbio visou fornecer exemplos práticos de inovação, empreendedorismo e projetos de smart city para inspirar mudanças locais significativas em Brno.

A delegação visitou o e-Estonia Briefing Centre, onde foi apresentada a trajetória de três décadas de digitalização da Estónia, assente num sistema universal de identificação electrónica que permite transações rápidas e serviços altamente automatizados, como a entrega de declarações fiscais. No Fórum MELT, centrado em inteligência artificial, conheceram-se iniciativas como o Test in Tallinn e Tallinnovation, que apoiam soluções urbanas inteligentes. No FinEst Centre for Smart Cities, analisou-se o papel de Tallinn como laboratório de inovação urbana. A visita ao Tehnopol Science and Technology Park demonstrou a importância das start-ups no crescimento económico, com mais de 350 empresas instaladas (face a 40 em Brno). Finalmente, o Mektory Innovation Centre, da TalTech, evidenciou a abordagem da 'tríplice hélice', promovendo a colaboração entre academia, empresas e administração pública.

Tallinn demonstrou uma cultura de agilidade e colaboração, valorizando a partilha de conhecimento e uma abordagem pragmática — done is better than perfect. Programas como o Test in Tallinn e o Tallinnovation ilustram uma boa coordenação entre partes interessadas, sugerindo a Brno que clarifique papéis e reduza a competição interna. Uma abordagem centrada no utilizador e na eficiência dos serviços pode reforçar o bem-estar urbano. O modelo da tríplice hélice sublinha a necessidade de uma colaboração mais estruturada no ecossistema de inovação de Brno. Por fim, o conceito de 'laboratório vivo' pode inspirar Brno a transformar o espaço urbano num campo de experimentação tecnológica.

Noutro exemplo, Varaždin (Croácia) e Plasencia (Espanha) colaboraram para explorar como a transformação digital pode apoiar o turismo sustentável, respeitando o património cultural e ambiental. Durante o intercâmbio, a equipa de Varaždin visitou Plasencia, onde foi apresentada uma aplicação móvel que centraliza conteúdos turísticos e culturais, oferecendo serviços práticos, respeitando a proteção de dados e permitindo adaptação a outras realidades. Plasencia mostrou como esta ferramenta digital reforça o turismo sustentável, sem comprometer os recursos naturais ou o património.

Durante a visita de Plasencia a Varaždin, os debates alargaram-se ao empreendedorismo e ao desenvolvimento agrícola, revelando novas oportunidades de cooperação. A experiência direta da aplicação ajudou Varaždin a preparar a sua própria ferramenta para promover o turismo sem comprometer a qualidade de vida local.

Noutra ocasião, Liepāja (Letónia), Gava (Espanha) e Tampere (Finlândia) reuniram-se para debater a utilização da digitalização na participação cidadã. O intercâmbio abordou ferramentas e plataformas de gestão de projetos, métodos inovadores de participação digital, diferentes estruturas de orçamentos participativos e a compilação de boas práticas para aquisições públicas sustentáveis e inovadoras.

Estratégias de Desenvolvimento Urbano Sustentável para a transição digital

Outra oportunidade de capacitação promovida pela EUI é o programa de Revisão por Pares (Peer Review), que oferece um processo estruturado para que autoridades urbanas possam ver as suas estratégias avaliadas por pares de outras cidades. Este processo envolve uma análise aprofundada de desafios e soluções, promovendo a aprendizagem mútua e o reforço de capacitação. As cidades participantes beneficiam de contributos concretos que podem informar a conceção e implementação de estratégias de Desenvolvimento Urbano Sustentável (DUS).

Embora os eventos de Revisão por Pares abordem vários temas (envolvimento das partes interessadas, governança metropolitana, monitorização ou financiamento), a transição digital surge frequentemente como tema transversal, com exemplos partilhados de ferramentas e procedimentos digitais.

Por exemplo, na Revisão por Pares em Salónica (Grécia, junho 2023), a cidade da Maia (Portugal) procurava formas de envolver os jovens na sua estratégia DUS. Vicenza (Itália) partilhou uma aplicação com informação para adolescentes sobre atividades, ofertas de trabalho e contactos institucionais. Łódź (Polónia) mencionou uma competição lúdica com QR codes em edifícios a reabilitar, para fomentar a participação através de meios digitais.

Noutra sessão, em Coimbra (Portugal, novembro 2023), Igoumenitsa (Grécia) procurava formas de monitorizar a implementação da sua estratégia DUS com indicadores adequados. Alba Iulia (Roménia) explicou a importância de usar indicadores quantitativos baseados em inquéritos a partes interessadas, recolhidos durante visitas de bairro. Criaram uma 'plataforma de barómetro local' com base em feedback dos cidadãos, complementada por uma aplicação (Smart Alba Iulia) e por inquéritos simples integrados no acesso Wi-Fi em espaços públicos.

Mais recentemente, no Vale do Jiu (Roménia, setembro 2024), a cidade de Ústí nad Labem procurava formas de implementar processos participativos na sua estratégia de Investimento Territorial Integrado (ITI). Os peritos recomendaram o reforço da plataforma digital existente com funcionalidades interativas (inquéritos, partilha de ideias, orçamentos participativos). Jonadi (Itália) sugeriu usar processos participativos para definir indicadores relevantes e Piraeus (Grécia) apresentou o seu modelo de gémeo digital da cidade, usado para promover transparência e atrair investidores.

Como participar?

Estes são apenas alguns exemplos de como a transição digital tem sido abordada nos eventos de Intercâmbio entre Cidades e Revisão por Pares da EUI. Desde o seu lançamento, estes programas têm revelado um enorme potencial para apoiar as cidades na partilha de soluções e na aprendizagem colaborativa.

Ainda vai a tempo de participar em um ou mais destes programas: os Concursos para Revisões por Pares abrem periodicamente, e o Concurso para os Intercâmbios entre Cidades está sempre aberto. As cidades interessadas recebem apoio da equipa EUI e dos seus peritos ao longo de todo o processo de candidatura e implementação.

A colaboração e a troca de experiências, apoiadas pela EUI, apontam para um modelo europeu de cidade inteligente baseado na transparência, nas infraestruturas abertas e na partilha. Ao cooperarem, as cidades podem encarar a transição digital como um esforço em rede, em que os avanços de umas beneficiam todas. Ao promover uma solidariedade digital, as cidades europeias podem tornar-se mais resilientes, inclusivas e tecnologicamente soberanas, evitando os riscos da fragmentação.

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