
Com o verão de 2025 em pleno auge e os números de visitantes a superarem os níveis pré-pandemia em muitas regiões, as pressões do sobreturismo voltam a ganhar destaque no debate público. Embora esta recuperação beneficie as economias locais, também acentua desafios de longa data: pressão ambiental, impacto no mercado da habitação, perda de identidade local e desequilíbrios territoriais.
É neste contexto que a Parceria Turismo Sustentável da Agenda Urbana para a União Europeia (UAEU) assume particular relevância. O seu Plano de Ação, atualmente em implementação, propõe respostas concretas a partir de uma lógica territorial e colaborativa. Composto por seis ações interligadas, o plano traduz-se num roteiro operacional para transformar os sistemas turísticos urbanos de forma mais sustentável, inclusiva e resiliente.
Alinhamento europeu: nova Estratégia da UE para o Turismo Sustentável
A pertinência do trabalho da Parceria é reforçada pela consulta pública em curso sobre a futura Estratégia Europeia para o Turismo Sustentável, lançada pela Comissão Europeia e aberta até setembro de 2025. Trata-se de um convite aos cidadãos, às partes interessadas e aos territórios para co-construírem uma estratégia europeia que alinhe o turismo com os objetivos da neutralidade climática, da resiliência e da coesão territorial.
Ação 1 | O turismo na crise climática: diretrizes para cidades resilientes
O turismo é simultaneamente vítima e vetor das alterações climáticas. A Ação 1 do plano está a desenvolver diretrizes para apoiar destinos urbanos a tornarem-se mais resilientes e com menor pegada climática, com base nos cinco pilares da Declaração de Glasgow: medição, descarbonização, regeneração, colaboração e financiamento.
A recolha de estudos de caso e entrevistas com cidades pioneiras está em curso, com o objetivo de produzir orientações práticas para a criação de planos locais de ação climática no turismo.
Ação 2 | Certificações de sustentabilidade: um caminho para as PME turísticas
As pequenas e médias empresas (PME) são atores-chave no sector turístico, mas muitas enfrentam dificuldades na transição verde. A Ação 2 apoia as autoridades locais na promoção de certificações de sustentabilidade reconhecidas (como a EU Ecolabel ou Green Key), através de um manual digital em preparação e uma matriz comparativa de esquemas credíveis.
O objetivo é reforçar a visibilidade e a credibilidade de produtos turísticos certificados, mostrando os seus benefícios ambientais, reputacionais e de mercado.
Ação 3 | Combater a exclusão digital no sector do turismo
A transformação digital afeta todas as dimensões do turismo, mas muitos profissionais – sobretudo em pequenas cidades e zonas rurais – continuam sem acesso a competências digitais básicas. A Ação 3 desenvolve uma ferramenta de emparelhamento de competências digitais adaptada aos profissionais do turismo e às autoridades locais, com base em políticas europeias e projetos financiados pela UE.
Um inquérito pan-europeu está a recolher dados que ajudarão a definir as prioridades de formação e a conceber conteúdos úteis e aplicáveis no terreno.
Ação 4 | Diversificar a oferta e desconcentrar os fluxos
O sobreturismo em locais icónicos como Barcelona ou Veneza contrasta com outras regiões com elevado potencial por explorar. A Ação 4 promove a diversificação da oferta turística através de boas práticas e modelos de financiamento que favorecem destinos alternativos, experiências locais fora da época alta e iniciativas centradas na gastronomia, no artesanato ou no património imaterial.
Ação 5 | Turismo acessível para todas as pessoas
A acessibilidade continua a ser uma barreira real para muitos viajantes. A Ação 5 foca-se em melhorar a acessibilidade no turismo, promovendo o desenho universal e reunindo boas práticas que demonstram como tornar serviços e infraestruturas turísticas verdadeiramente inclusivos.
Esta ação sublinha que a acessibilidade não é apenas uma obrigação legal, mas também uma vantagem competitiva, com impactos positivos na satisfação dos visitantes, na duração da estadia e nas taxas de retorno.
Ação 6 | Proteger o comércio local e a identidade dos lugares
A proliferação de franquias e lojas de recordações uniformiza os centros urbanos e enfraquece a identidade local. A Ação 6 apoia as cidades no desenvolvimento de estratégias para preservar o comércio local como componente cultural e turística.
Será elaborado um documento de recomendações com exemplos de políticas e práticas urbanas que ajudam a manter bairros vibrantes, multifuncionais e com valor acrescentado para residentes e visitantes.
Um novo modelo de turismo para a Europa
As ações da Parceria Turismo Sustentável representam uma abordagem colaborativa e prática para os desafios urgentes do setor. Ao mesmo tempo que se acumulam sinais de saturação turística, torna-se evidente que a resposta não pode passar por continuar como antes. É necessário repensar o turismo como parte integrante da política urbana, da ação climática e da coesão territorial.
Sustentabilidade no turismo não é apenas gerir fluxos ou reduzir emissões. É valorizar os territórios, reforçar a identidade dos lugares e garantir que o turismo é um benefício partilhado – não um fardo crescente.