7 Perspetivas-Chave para Compreender o Processo de Cocriação e Soluções Inovadoras no projeto Viana S+T+ARTS

EUI
European Urban Initiative
05/02/2025
Viana S+T+ARTS

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A Origem

Este projeto tem origem no antigo matadouro, o Matadouro Municipal, na cidade de Viana do Castelo, um edifício construído em 1926. Ao longo da sua existência, a sua atividade foi crescendo, chegando mesmo a absorver funções de outros matadouros regionais que iam encerrando, até que finalmente cessou a sua atividade há cerca de 40 anos, devido a normas sanitárias mais rigorosas, permanecendo sem utilização até aos dias de hoje.

O edifício é amplamente conhecido na cidade, destacando-se pela sua presença distintiva e facilmente reconhecível, ainda mais acentuada pelo estado de degradação acumulado ao longo do tempo. A requalificação deste espaço tem sido uma questão pendente para a cidade, apesar das várias tentativas da Câmara Municipal de Viana do Castelo, desde há vários anos, para lhe atribuir um novo uso durante o seu período de falta de utilização.

Inspirado na Nova Bauhaus Europeia (New European Bauhaus), o desafio ultrapassa agora os aspectos arquitetónicos, construtivos e físicos, transformando o projeto em algo mais do que uma simples reabilitação, conservação e renovação. Trata-se de abordar o propósito que lhe está subjacente, a identidade original do edifício, a sua essência e a sua projeção nas novas utilizações. Estes fatores interligados são abordados através da cocriação e inovação no Viana S+T+ARTS.

O Edifício Original

O antigo Matadouro Municipal é constituído por um volume principal em forma de cruz, com duplo pé-direito. As paredes grossas e o teto de madeira chamam rapidamente a atenção nesta construção industrial, que lembra um pouco uma igreja. Em torno deste volume, o conjunto inclui uma série de anexos, funcionando como espaços auxiliares, ligados por um pátio exterior. O edifício está virado para o mar, tendo à sua frente edifícios de habitação e um parque de estacionamento de um concessionário automóvel, que o separam da estrada que o conduz ao norte de Viana do Castelo. De certa forma, o edifício permanece escondido, no fundo da cidade.

O estado de conservação destes espaços exteriores é razoavelmente bom. Vários estudos e inspeções cuidadosas identificaram as possibilidades de conservação ou eliminação de elemento a elemento. Para dar uma ideia, cerca de 80% das paredes serão preservadas, enquanto a cobertura do edifício principal será completamente renovada.

Para além de um Edifício, em direção a um Modelo

A renovação deste espaço representa uma oportunidade para Viana do Castelo, intrinsecamente ligada a um processo de cocriação que visa responder a uma questão fundamental: porquê? A resposta não é singular nem definitiva, já que este projeto procura ir muito para além da renovação arquitetónica. Pretende transcender o espaço físico do edifício, impactando verdadeiramente a cidade e a sua envolvente.

Este projeto pretende reter talentos em Viana do Castelo, tornar-se uma fonte de inspiração com recurso às novas tecnologias e funcionar como um espaço de encontro, interação e ligação entre as pessoas. Isto leva-nos à seguinte questão: para quem? O foco principal são os criativos. A idade não será uma limitação; por exemplo, um jovem com novas ferramentas tecnológicas pode criar algo em conjunto com um criativo sénior. As palavras que os unem são criação e criatividade.

Deste modo, o Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) e a Associação Juvenil de Deão (AJD) são pilares fundamentais na criação do conceito do Viana S+T+ARTS. O primeiro, através da sua ligação ao meio académico, à investigação e à transferência tecnológica, e a segunda, através do seu envolvimento com crianças e jovens e das suas ligações a diferentes redes sociais comunitárias nas áreas urbanas e rurais, bem como a nível internacional.

Esta reflexão contínua estende-se à questão: como? A resposta é dinâmica e não estática. Este modelo aspira a gerar oportunidades, sinergias, modelos de negócio, crescimento e desenvolvimento individual e coletivo. Neste contexto, a Associação Empresarial do Distrito de Viana do Castelo (AEDVC) está envolvida para ligar o projeto aos sectores empresarial, industrial e de serviços. Este modelo potencia não só um novo espaço, mas também novos modelos relacionais entre agentes, sendo o DINAMO10 um exemplo de negócio criativo.

O projeto pretende ser único e inspirador, respeitando a sua identidade e o seu passado. A experiência de inovação na construção do Instituto de Investigação e Desenvolvimento Tecnológico para a Construção, Energia, Ambiente e Sustentabilidade (Itecons), aliada à capacidade da INOVA+ de traduzir ideias numa proposta tangível, completa a parceria de uma equipa equilibrada, proativa e capaz.

Sustentabilidade na Conceção

O projeto de execução gira em torno de princípios de sustentabilidade, eficiência e circularidade, visando superar as normas para edifícios com quase zero emissões. Este projeto incorpora soluções acústicas e térmicas inovadoras feitas a partir de matérias-primas que de outra forma seriam tratadas como resíduos, como cascas de arroz ou resíduos de cânhamo, dando a estes materiais a oportunidade de se transformarem em soluções inovadoras, com o objetivo de utilizar 20% de materiais reciclados.

A estratégia circular também se aplica a novos componentes de edifícios, como revestimentos, isolamentos ou mesmo coberturas verdes, e compromete-se a reutilizar ou recuperar 90% dos resíduos gerados durante a renovação. A título de exemplo, toda a madeira resultante da desmontagem da cobertura existente será reutilizada, dando-lhe uma segunda vida.

O edifício servirá também de exemplo vivo de impacto mínimo, combinando fontes de energia renováveis, como painéis solares fotovoltaicos e um gerador eólico, para satisfazer até 50% das suas necessidades energéticas, apoiadas por um sistema de armazenamento de energia a hidrogénio.

A seleção de materiais envolve então a cocriação envolvendo peritos em ciência dos materiais, designers espaciais, arquitetos e fabricantes, que frequentemente introduzem inovações no mercado. O propósito é tomar decisões de forma integrada, tendo em conta as características técnicas dos novos materiais, o seu aspeto visual e a sua integração no projeto. Trata-se, assim, de um valor acrescentado dado à própria reabilitação do edifício.

Integração com o Meio Ambiente

O projeto visa também revitalizar a área envolvente, concebida como um espaço aberto, inclusivo e esteticamente aprazível. Pretende convidar à entrada, à participação e à exploração, fundindo arte, cultura, ciência e tecnologia através da inspiração e da criatividade. Em última análise, será um espaço nascido da cocriação para a cocriação.

A filosofia da Nova Bauhaus Europeia confere-lhe um propósito integrador, uma vocação renovada e uma identidade distinta. Atingir estes desideratos com um edifício novo seria um desafio. A inspiração fluirá a partir do próprio edifício, da sua arquitetura, das atividades que acolhe, da tecnologia para a gestão de energia e água, dos materiais de construção reutilizados e reciclados, bem como do design evolutivo do espaço.

A envolvente do edifício será também transformada, dando lugar a uma praça em frente à sua fachada principal que o estenderá para além dos seus limites atuais. Um outro sinal de integração mais harmoniosa será encontrado nos seus muros perimetrais, atualmente fechados, que serão parcialmente removidos para melhor ligar o edifício à sua envolvente e abri-lo.

A Rede

A cocriação deste espaço suscita uma outra questão: e se as expectativas não forem satisfeitas ou não se adequarem? Seria um fracasso? De modo algum! O processo de cocriação identificou a oportunidade de integrar este espaço numa rede multimodal e polinucleada. O Viana S+T+ARTS atuará como um ponto de entrada para esta rede, ligando e ampliando possibilidades.

Esta rede considera várias dimensões. Fisicamente, as atividades podem necessitar de extensões maiores, maker labs, fab labs, espaços de coworking, etc., que podem ser localizados no Viana S+T+ARTS ou noutros locais da rede. Em termos de perfis humanos, o edifício situa-se a 200 m do campus principal do IPVC. Está próximo de várias escolas e dentro da área urbana de Viana do Castelo, mas ligar-se-á igualmente a contextos rurais. Desta forma, interligará os jovens rurais e urbanos, as comunidades e as partes interessadas, maximizando o potencial para benefício de todos.

Tudo Começa Aqui.

A cocriação continua agora e persistirá durante toda a vida do projeto. De facto, permanecerá viva durante toda a existência do edifício, para continuar a abordar desafios intimamente ligados à utilização deste espaço: o seu modelo de governança, o seu plano de comunicação, a utilização eficaz deste espaço em alinhamento e harmonia com outros espaços de Viana do Castelo, etc. Em suma, o Viana S+T+ARTS é um projeto ambicioso, um resgate do passado do edifício e um renascimento como fonte contínua de criatividade e de novos começos.

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